MITOCÔNDRIAS

As mitocôndrias (mitos, filamento, e condria, partícula), cujo conjunto era antigamente chamado de condrioma, são organelas citoplasmáticas de forma arredondada ou alongada (estruturas cilíndricas), existentes em praticamente todos os tipos de células eucariontes (vegetais e animais), em número proporcional à atividade metabólica de cada uma, sendo então variável nas diferentes células, indo de quinhentas, mil ou até dez mil dessas estruturas por célula. As células de plantas verdes possuem menor número de mitocôndrias que muitas células animais, pois algumas de suas funções são exercidas pelos cloroplastos. As mitocôndrias foram descritas pela primeira vez por Altmann, em 1894 (que as denominou "bioblastos"), sugerindo sua relação com a oxidação celular. Em 1913, Warburg observou que as enzimas respiratórias estavam associadas a partículas citoplasmáticas. A partir de 1950, o microscópio eletrônico permitiu aos pesquisadores conhecer muito mais sobre a organização estrutural dessas organelas.

1. ORIGEM

Existem evidências que sugerem que as organelas envolvidas nas transformações energéticas, mitocôndrias e cloroplastos, derivam de bactérias aeróbias que foram fagocitadas por células eucariontes anaeróbias, escaparam dos mecanismos digestivos do interior da célula e se estabeleceram como simbiontes nas células eucariontes anaeróbias hospedeiras, criando um relacionamento mutuamente benéfico e irreversível, devido à mutações ocorridas no simbionte. Isso tudo teria ocorrido nos primórdios da vida na Terra. Há inúmeras evidências a favor dessa hipótese. Uma delas seria de que o DNA de mitocôndrias e cloroplastos possuem DNA cuja cadeia é circular, como nas bactérias. A constituição das moléculas das duas membranas mitocondriais também está em acordo com a possível origem evolutiva dessas organelas a partir de organelas simbiontes, que se instalaram no citoplasma. A membrana externa é parecida com a membrana plasmática das células eucariontes e a membrana interna tem muita semelhança com a membrana de bactérias e, como estas, contém o sistema de transferência de energia. Outras evidências são a presença dos vários tipos de RNA e de um mecanismo de auto-reprodução próprio, assim como as bactérias possuem. Além disso, simbiose entre bactérias e células eucariontes continua acontecendo, sendo inúmeros os casos atualmente existentes. A observação de que antibióticos que inibem a síntese de proteína bacteriana também agem sobre as mitocôndrias também fala a favor da origem bacteriana das mitocôndrias. Admite-se que, durante o processo evolutivo, as mitocôndrias perderam, gradualmente, a maior parte do seu genoma, que foi transferido para a célula eucarionte hospedeira. Assim, as mitocôndrias tornaram-se dependentes de proteínas codificadas pelo genoma do núcleo da célula. A maior parte das proteínas das mitocôndrias são codificadas por RNA mensageiro proveniente do núcleo celular, sintetizadas nos polirribossomos da matriz citoplasmática e, por último, transferidas para dentro das mitocôndrias.

2. ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO

Uma mitocôndria mede, em geral, entre meio até oito ou dez micrômetros e possui um diâmetro aproximado de meio a um micrômetro. O volume de uma mitocôndria se altera de acordo com a atividade que este desenvolve. A posição e a forma das mitocôndrias não são fixas, pois foi observado que as organelas se movem constantemente. Esses movimentos (ativos e passivos) e a posição das mitocôndrias no interior celular são influenciados pela posição do citoesqueleto. Elas geralmente se localizam próximo aos locais onde existe grande consumo de energia, pois são produtoras de ATP. Por exemplo, nos epitélios ciliados, as mitocôndrias se acumulam perto dos cílios e, nos espermatozóides, ao redor da porção inicial do flagelo, onde tem início a movimentação flagelar. As mitocôndrias são de constituição lipoprotéica, sendo, em média, três quartos do seu peso seco constituídos por proteínas e um quarto por lipídios. Os lipídios estão presentes, principalmente nas membranas mitocondriais. Contém também pequena quantidade de DNA - caracteriza-se por taxa de mutação muito alta - e das três variedades de RNA (mRNA, tRNA e rRNA). A maior parte dos lipídios é formada por fosfolipídios, sendo o restante constituído por triglicerídeos e colesterol. As proteínas são, em sua maior parte, enzimas, das quais se conhecem mais de setenta e estas se relacionam com vários processos metabólicos, como a síntese de proteínas e de hormônios esteróides, por exemplo. Finos cortes de mitocôndrias revelam, no microscópio eletrônico, que elas são formadas por duas membranas lipoprotéicas, uma externa e outra interna, semelhantes às outras membranas celulares, e que contém no seu interior a matriz mitocondrial, uma substância finamente granulosa e densa, muito rica em enzimas (entre as quais estão as relacionadas com o ciclo do ácido cítrico, com a beta-oxidação de ácidos graxos e com a replicação, transcrição e tradução do DNA mitocondrial), que contém também diversas proteínas, filamentos de DNA muito compactos, apresentados sob a forma de anéis de cadeia dupla, com uma circunferência de cinco a seis micrômetros cada um, que além de produzirem os três tipos de RNA, carregam informações genéticas para a síntese de um número limitado de proteínas que são produzidas nos ribossomos mitocondriais. A maior parte das proteínas mitocondriais é sintetizada no citoplasma, sendo depois transferidas para as mitocôndrias. As proteínas destinadas às mitocôndrias têm um pequeno segmento da molécula que é um sinal, reconhecido por receptores na superfície das mitocôndrias. Ao serem introduzidas ao interior mitocondrial, por processo ativo há um gasto de ATP. O código genético do DNA mitocondrial é diferente, é próprio das mitocôndrias, é relativamente pequeno, e a herança mitocondrial é puramente materna. Praticamente todas as mitocôndrias do zigoto são de origem materna. O genoma mitocondrial já foi completamente seqüenciado. Os ribossomos mitocondriais são muito pequenos, medem 15 nanômetros de diâmetro (menores que os do citosol) e, em sua maioria, estão presos à membrana interna. É freqüente observar grânulos densos no seio da matriz, com diâmetro de trinta a cinqüenta nanômetros, contendo cálcio e de função pouco conhecida. A membrana externa é lisa, conferindo à mitocôndria o formato exterior de um bastonete de pontas arredondadas. É muito permeável a diversos tipos de moléculas com peso abaixo de cinco mil dáltons. Essa permeabilidade é devido à presença de proteínas intercaladas na membrana, as porinas, que limitam canais com o diâmetro de um nanômetro. A membrana externa delimita as mitocôndrias. É rica em colesterol, enquanto a membrana interna é pobre neste lipídio, sendo rica em cardiolipina, fosfolipídio com quatro ácidos graxos, que contribui para dificultar a passagem de íons através da membrana mitocondrial interna, o que é funcionalmente muito importante, porque uma concentração elevada de íons na matriz mitocondrial perturbaria a captação de energia no ATP. Esta membrana é rica em enzimas, funcionalmente muito ativa e seleciona, de modo eficiente, as moléculas e íons que a atravessam, facilitando a penetração de certas substâncias e dificultando a passagem de outras, como no caso citado acima com a cardiolipina. Os fosfolipídios das membranas mitocondriais não são sintetizados na própria organela e sim no retículo endoplasmático, sendo depois transferidos para as mitocôndrias através de proteínas transportadoras especiais. Na membrana interna encontram-se mais de sessenta proteínas com três funções principais: juntamente com enzimas, constituem a cadeia de transporte de elétrons; proteínas dos corpúsculos elementares , com atividade de ATP-sintetase sem a qual a membrana não teria a capacidade de acoplar o transporte de elétrons à síntese de ATP e proteínas que fazem parte dos múltiplos sistemas de transporte ativo presentes na membrana interna. Ambas as membranas, externa e interna, têm espessura aproximada de seis nanômetros. Entre as duas membranas, observa-se o espaço intermembranoso, que mede de seis a oito nanômetros. A membrana interna apresenta invaginações em forma de prateleiras, ricas em enzimas respiratórias (oxidativas), formando as cristas, as quais aumentam grandemente a área da superfície disponível para a atividade respiratória, logo aumentam a eficiência da organela. Em certos protozoários e em células que sintetizam esteróides, as invaginações da membrana interna assumem a forma de tubos ou dedos de luva, e acabam por aparecer estruturas circulares no interior das mitocôndrias. Uma mesma mitocôndria pode apresentar cristas em forma de prateleiras e invaginações tubulares. As cristas são responsáveis pelo metabolismo respiratório e pela fosforilação oxidativa. Na superfície da membrana interna que está em contato com a matriz, se encontram os corpúsculos elementares, que são pequenas partículas (dez nanômetros de diâmetro) em forma de raquete que se inserem na membrana através de seus cabos. Existe alguma variação na estrutura mitocondrial, conforme o tipo de célula e seu funcionamento. No geral, a quantidade de cristas é proporcional à atividade respiratória da célula; a densidade da matriz também segue essa relação.

2.1. A reprodução das mitocôndrias

As mitocôndrias possuem a capacidade de se autoduplicar. É dessa maneira que surgem as novas mitocôndrias nas células. A capacidade de reprodução das mitocôndrias está associada ao fato de essas organelas possuírem DNA, sendo capazes de sintetizar, elas mesmas, parte de suas proteínas. Nesse aspecto, as mitocôndrias comportam-se como se fossem seres relativamente independentes, que vivem no interior das células eucariontes. Como vimos anteriormente, existem fortes evidências de que os ancestrais das mitocôndrias foram organismos procariontes de vida livre. Eu um passado remoto, esses seres passaram a viver com os ancestrais dos eucariontes atuais, estabelecendo com eles uma relação de interdependência mutualística tão estreita que nunca mais puderam se separar.

3. FUNÇÃO

As células eucariontes revelam uma série de características funcionais comuns a todas elas, como, por exemplo, capacidade de movimentação, de multiplicação, condução de impulsos, secreção, irritabilidade, etc. Em algumas células essas atividades de dão com maior intensidade e em outras com menor intensidade, isso dependerá de suas características especiais. Para a realização de todas essas atividades, básicas ou especializadas, que mantém a célula, é necessário energia. A função das mitocôndrias é nada menos que produzir energia para todos os processos vitais das células. Essa energia necessária para a manutenção dos processos vitais das células, tanto animais como vegetais, é conseguida através de uma série de reações químicas entre as moléculas dos alimentos e o oxigênio. Há a ruptura gradual de ligações covalentes de moléculas de compostos orgânicos ricos em energia. Na célula vegetal, esses compostos são sintetizados com a energia resultante da transformação da energia do Sol em energia química durante o processo de fotossíntese. Neste processo, graças ao pigmento clorofila, processa-se a acumulação da energia solar sob a forma de ligações químicas nos hidratos de carbono, principalmente hexoses, que se polimerizam para formar amido. As células, porém, não usam diretamente a energia liberada dos hidratos de carbono e gorduras, mas se utilizam de um composto intermediário, a adenosina-trifosfato ou trifosfato de adenosina (ATP), geralmente produzido graças à energia contida nas moléculas de glicose e de ácidos graxos. O ATP é um trinucleotídeo constituído pela base adenina, pelo açúcar ribose e por três fosfatos. A energia disponível para a célula fica armazenada nas ligações de alta energia existentes entre os dois últimos fosfatos da molécula. A produção de energia ocorre através da respiração celular. A respiração celular é o processo pelo qual as células obtém a energia do alimento. Elas fazem isso combinando as moléculas de alimento com o gás oxigênio do ar. Para retirar a energia dos nutrientes contidos nos alimentos, a célula usa um sistema que os oxida lentamente (oxidação controlada), liberando energia gradualmente, e produzindo água e gás carbônico. Esse processo, chamado de respiração aeróbia. Em linhas muito gerais, a reação de respiração pode ser representada como segue:

alimento + gás oxigênio => gás carbônico + água + ENERGIA

Se representássemos a equação com fórmulas, considerando glicose como alimento, teríamos:

C6H12O6 + 6 O2 => 6 CO2 + 6 H2O + ENERGIA

A respiração é o processo através do qual, mediante a destruição de cadeias de carbono, obtêm-se energia química para o metabolismo. Esse processo basicamente é o mesmo em todos os seres vivos, o que sugere uma origem comum. Considerando a interdependência entre vegetais e animais, as reações de respiração são exotérmicas ou de liberação de energia, como se fosse uma espécie de combustão. O que as diferencia da combustão é que na respiração a destruição das cadeias de carbono se dá gradativamente para evitar o excesso de calor liberado na combustão, o que prejudicaria a ação do mecanismo enzimático celular. A respiração celular ocorre em parte no citoplasma e em parte no interior das mitocôndrias. A etapa citoplasmática é a glicólise e a etapa mitocondrial da respiração celular compreende diversas reações que juntas formam o processo de fosforilação oxidativa. A glicólise (lise, quebra) acontece quando, na falta de oxigênio, a célula pode obter energia realizando apenas a parte inicial do processo de quebra da glicose. Esse processo ocorre no citoplasma celular, portanto, fora das mitocôndrias, e não necessita de oxigênio para sua realização (processo anaeróbio). O processo de quebra de glicose na ausência de oxigênio é conhecido também como fermentação. Esse processo fornece uma quantidade de energia suficiente para a síntese de duas moléculas de ATP (trifosfato de adenosina), a partir de dois ADP (difosfato de adenosina) e de dois Pi (fosfatos inorgânicos).

2 ADP + 2 Pi + ENERGIA => 2 ATP

Os produtos resultantes de uma fermentação podem ser de diversos tipos, dependendo da célula que está realizando o processo. Existem organismos que produzem, como resultado da fermentação, álcool e gás carbônico; outros produzem ácido lático; outros produzem ácido acético, e assim por diante. Em todas as fermentações, sejam elas alcoólicas, acéticas ou láticas, a glicose é sempre degradada a duas moléculas de ácido pirúvico. Esse ácido é, em seguida, transformado em outros tipos de compostos que caracterizam o tipo de fermentação. Após o aparecimento do oxigênio na atmosfera, desenvolveu-se uma nova via metabólica, de maior rendimento energético do que a glicólise, a fosforilação oxidativa. Na fosforilação oxidativa, o piruvato é oxidado até se formarem água e gás carbônico, com alto rendimento energético. A energia liberada é armazenada nas ligações fosfato do trifostato de adenosina (ATP) que circula no meio intercelular. Quando é preciso, o terceiro fosfato desliga-se do ATP (que passa a ser ADP, o difosfato de adenosina) e libera energia para algum processo celular. A fosforilação oxidativa é o processo que incorpora novamente um fosfato ao ADP, restabelecendo o ATP. É um processo contínuo e a energia gasta para isso provém da respiração. A transferência de energia para ADP, transformando-o em ATP, deve-se a um processo quimiosmótico. Segundo a teoria quimiosmótica, os íons H+ (prótons), produzidos no ciclo do ácido cítrico na matriz mitocondrial, são transportados ativamente através da membrana e acumulados no espaço intermembranoso, graças à energia liberada pelos elétrons, durante sua passagem pela cadeia transportadora de elétrons. A energia do fluxo retrógrado de prótons, através dos corpúsculos elementares, é usada para transformar ADP em ATP. Costuma-se distinguir, na oxidação fosforilativa, três mecanismos distintos, mas que se entrelaçam intimamente. São eles a produção de acetilcoenzima A (acetil- CoA), o ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs e o sistema transportador de elétrons ou cadeia respiratória. A fosforilação ocorre no citosol. A produção de acetilcoenzima A é feita a partir da coenzima A e do piruvato derivado da glicólise ou, então, por oxidação dos ácidos graxos. Ambos atravessam as membranas mitocondriais, penetrando na raiz da mitocôndria e, na matriz da organela, geram acetato que, ligado à coenzima A, forma acetil-CoA. Primeiramente, o ácido pirúvico é desidrogenado pelo NAD (nicotinamida adenina dinucleotídeo), dando uma molécula de NAD.2H e descarboxilado, resultando uma molécula de CO2, que é eliminado do da mitocôndria. Assim, forma-se uma cadeia de dois átomos de carbono, o grupo acetila. A quebra direta dessa pequena cadeia liberaria energia em excesso, o que ameaçaria a integridade celular. Então, o grupo acetila une-se a uma enzima (coenzima A) formando o acetil-CoA. Deve-se a um sistema multienzimático, o complexo desidrogenase do piruvato, a transformação de piruvato em acetil-CoA. Esse complexo é constituído de cópias múltiplas de três enzimas, cinco enzimas e duas proteínas reguladoras. A acetilcoenzima A entra no ciclo de Krebs. O ciclo de Krebs (ciclo do ácido cítrico) ou ciclo dos ácidos tricarboxílicos é uma seqüência cíclica, como já diz o nome, de reações enzimáticas na qual ocorre, graças à presença de enzimas chamadas desidrogenases, a produção de prótons e elétrons. Estes últimos são captados por moléculas complexas como o NAD (nicotinamida-adenina-dinucleotídeo), o FAD (flavina adenina dinucleotídeo) e os citocromos, que funcionam como transportadores de elétrons, no processo de oxidorredução. O hidrogênio, resultante das reações, é liberado na matriz mitocondrial, sob a forma de prótons (H+). Esse ciclo inicia com a condensação da acetilcoenzima A com ácido oxalacético que irá propiciar a quebra gradativa das ligações da molécula. O ácido oxalacético, uma vez ligado ao acetilCoA, formará o ácido cítrico que sofre várias desidrogenações e descarboxilações, resultando vários compostos intermediários, sendo que no final o ácido oxalacético é restituído à matriz mitocondrial. O resultado final do ciclo de Krebs é o seguinte: graças às desidrogenações, ocorre a produção de hidrogênio, que dará prótons e elétrons. Descarboxilases levam à produção de CO2, e existe uma reação exoenergética que promove a síntese de duas moléculas-grama de ATP por molécula-grama de glicose consumida. Nota-se então, que a principal função do ciclo de Krebs é produzir elétrons com alta energia e prótons, gerando CO2. Mas além dessa função principal, esse ciclo fornece metabólitos que serão usados para a síntese de aminoácidos e hidratos de carbono. O rendimento energético do ciclo de Krebs é baixo. O sistema transportador de elétrons ou cadeia respiratória é uma cadeia formada por enzimas, cuja função é transportar elétrons. Os transportadores são chamados de citocromos e são ricos em ferro. Os hidrogênios que foram retirados dos compostos intermediários formados no ciclo de Krebs e da glicose (na glicólise) serão agora transportados por seus aceptores e percorrerão a trilha enzimática organizada ao longo das cristas mitocondriais. Os elétrons transportados através dessa cadeia são de alta energia, e ao longo do "caminho" vão cedendo essa energia de forma gradual, ao passarem de um transportador a outro transportador, e ela é veiculada para três locais determinados da cadeia, onde ocorre a síntese de ATP. Esse processo é eficiente e produz 36 moléculas de ATP por molécula de glicose consumida. Durante esse deslocamento haverá a formação de H2O (que compensa o gasto de água ocorrido no ciclo de Krebs) além da formação de ATP. O último aceptor de elétrons é o oxigênio, que se reduz definitivamente a forma de água. O ciclo de Krebs, ocorrendo juntamente com a cadeia respiratória, transforma dois ácidos pirúvicos e seis moléculas de O2 em seis moléculas de CO2 e seis moléculas de H20. Portanto, a respiração celular aeróbia produz CO2, H2O e energia (calor) segundo a equação global já vista neste trabalho.

C6H12O6 + 6 O2 => 6 CO2 + 6 H2O + ENERGIA

A energia liberada nesse processo é utilizada para fabricar 36 moléculas de ATP a partir de 36 moléculas de ADP e 36 fosfatos. O rendimento energético total de cada molécula de glicose degradada até 6 CO2 e 6 H20 é, portanto, de 38 ATP (dois na glicólise e 36 nos processos intramitocondriais). As moléculas de ATP são os reservatórios de energia da célula. Qualquer processo celular que gaste energia utiliza-se do ATP. Quando uma molécula de ATP transfere energia para algum processo celular, ela se degrada em ADP e fosfato. Esses produtos poderão gerar novo ATP se forem energizados pela reação de respiração celular ou pela glicólise. Na mitocôndria o consumo de oxigênio está relacionado à fosforilação de ADP e por isso o processo recebe o nome de oxidação fosforilativa. Esse processo é de alto rendimento energético comparado à glicólise. Certos indícios fazem supor que a glicólise seja o processo que filogeneticamente apareceu primeiro e que a fosforilação oxidativa se desenvolveu depois, durante a evolução, como um aperfeiçoamento do processo de respiração celular. A célula viva está sempre consumindo energia para os seus processos metabólicos. O rendimento energético da mitocôndria é algo apreciável, ela apresenta-se como uma máquina altamente eficiente, uma vez que é capaz de aproveitar quase 50% da energia contida na glicose (a metade da energia liberada dos nutrientes é armazenada pelas mitocôndrias em foram de ATP). Os outros 50% são dissipados em forma de calor, que é utilizado nos seres homeotérmicos para manter constante a temperatura do corpo.

3.1. A insuficiência respiratória mitocondrial

A insuficiência respiratória mitocondrial ocorre quando há deficiência ou falência da aerobiose. Ao nível das mitocôndrias, reencontra-se a glicose e o oxigênio formados pela fotossíntese. A glicose ingressa no organismo pelo aparelho digestivo e chega à mitocôndria pelo aparelho circulatório, uma rota que só difere da rota do oxigênio quanto à porta de entrada. Na mitocôndria, 6 moléculas de oxigênio e uma de glicose unem-se e dão início a um processo catabólico que, em última instância produz 6 moléculas de CO2 e 6 moléculas de água. É a aerobiose. Para que esta etapa do processo respiratório se cumpra a contento, é necessário que disponhamos de um adequado número de mitocôndrias, que cada mitocôndria seja funcionalmente competente e, finalmente, que cada mitocôndria seja adequadamente suprida dos substratos fundamentais à aerobiose e depurada de seus sub-produtos. A quantidade de mitocôndrias de nosso organismo é função da atividade física por nós desempenhada. Vários estudos têm demonstrado que um homem de vida sedentária possui, por unidade de massa muscular, a metade do número de mitocôndrias de um homem de vida fisicamente ativa. O crescimento do número de mitocôndrias ao passar-se do sedentarismo para a atividade, ocorre num período de poucas semanas. Este crescimento é, no entanto, limitado: mesmo os mais vigorosos programas de treinamento não tem conseguido ultrapassar a multiplicação por dois, antes referida. A atividade física possui outro importante mérito: enseja uma melhoria funcional de cada mitocôndria. O suprimento de substratos e a depuração de catabólitos dependem da etapa circulatória do processo respiratório. Aí, temos mais um destaque para a atividade física: ela multiplica os capilares, ensejando uma melhor aproximação às mitocôndrias. A excelência do processo aeróbico mitocondrial pode ser prejudicado não só pela inadequação anatômica ou funcional das mitocôndrias como no sedentarismo, mas também pela ação de tóxicos que bloqueiam enzimas fundamentais ao seu desenvolvimento, como é o caso do ácido cianídrico. As pragas do século XX constituem um sério desafio ao bom desempenho do processo respiratório. Abstraindo-se a fome, mal milenar, as três maiores ameaças à saúde pública, no mundo contemporâneo, são, todas elas, criações deste século: a poluição, o fumo e o sedentarismo. A poluição compromete o ciclo ambiental e o pulmonar. O fumo, o ciclo pulmonar e o circulatório. O sedentarismo, o ciclo circulatório e o mitocondrial. A respiração é a mais importante função biológica: sem ela nenhuma outra se pode cumprir. O progresso tecnológico e os hábitos de vida dele decorrentes não podem ter como preço o sacrifício da respiração porque sem ela, não há nada. Nem vida!

CONCLUSÃO

Até o momento da pesquisa para a realização deste trabalho, eu possuía apenas um conhecimento superficial sobre o que era uma mitocôndria e qual era a sua função em uma célula. A partir de então tive a oportunidade de me aprofundar no assunto e descobrir o que realmente é uma mitocôndria e sua real importância para o funcionamento celular. A mitocôndria não é somente mais uma organela citoplasmática presente na célula, e sim, umas das mais importantes, pois através da respiração celular, a mitocôndria libera energia gradualmente das moléculas de ácidos graxos e glicose, provenientes de alimentos, produzindo calor e, principalmente, moléculas de ATP (adenosina-trifosfato). A energia armazenada no ATP é usada pelas células para realizar suas diversas atividades, como movimentação, secreção, multiplicação, entre outras. Seu rendimento energético é algo apreciável, uma vez que é capaz de aproveitar quase 50% da energia contida na glicose, ao passo que um automóvel à gasolina é capaz de aproveitar apenas 25% da energia do combustível, desprezando os 75% restantes. A mitocôndria é, na verdade, uma máquina altamente eficiente do ponto de vista de rendimento energético. Conclui-se então, que se as mitocôndrias não existissem, as células não funcionariam, pois estas estão sempre consumindo energia para os seus processos metabólicos. Em decorrência disso, não poderíamos viver. Portanto, é fundamental para o funcionamento celular e para a vida.

BIBLIOGRAFIA

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DE ROBERTIS & ROBERTIS, Jr. Bases da biologia celular e molecular. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993.

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Site: http://www.unificado.com.br/dicas/biologia/bio01.html