Guerra do Vietnã

De natureza ideológica, a guerra do Vietnã foi o mais polêmico e violento conflito armado da segunda metade do século XX e o primeiro a ter imagens transmitidas pela televisão diretamente das frentes de batalha, fator que produziu profundo impacto na sociedade americana e despertou movimentos maciços de repúdio às decisões da liderança política nas questões internacionais relacionadas à guerra fria. Guerra do Vietnã é o nome dado à série de conflitos ocorridos de 1961 a 1975 entre as forças armadas dos Estados Unidos e do Vietnã do Sul, de um lado, e o Exército do Vietnã do Norte e a Frente de Libertação Nacional sul-vietnamita do outro. Nasceu da luta do povo vietnamita pela libertação do jugo colonial francês e se tornou, no período de maior intensidade da participação americana, elemento essencial da guerra fria, confronto ideológico entre os blocos capitalista e comunista. Antecedentes. A luta vietnamita contra o domínio colonial francês organizou-se em diversos movimentos dentre os quais se destacou a Liga de Independência do Vietnã, ou Viet Minh, partido nacionalista criado em 1941 e que tinha forte base de apoio popular na região norte. Em 2 de setembro de 1945, menos de um mês depois da rendição japonesa na segunda guerra mundial, Ho Chi Minh, líder do Viet Minh, proclamou a independência da República Democrática do Vietnam, mas a França, que pretendia reafirmar o controle sobre a Indochina, reconheceu o norte apenas como um estado livre dentro da União Francesa. As profundas discordâncias entre o Viet Minh e os franceses resultaram em luta a partir de 1946, que terminou com a derrota francesa em 1954, em Dien Bien Phu. Em maio de 1954, acordos firmados em Genebra estabeleceram a separação do Vietnam em duas partes, ao norte e ao sul do paralelo 17°N, e a futura reunificação do país por eleições gerais em 1956. Ho Chi Minh ficou com o controle do norte, à frente de uma república comunista com capital em Hanói. No sul, manteve-se a monarquia, com a capital em Saigon e Ngo Dinh Diem como primeiro-ministro. Em 1955, porém, Diem derrubou a monarquia, assumiu poderes ditatoriais e recusou-se a realizar as eleições. Os norte-vietnamitas decidiram então abandonar os meios políticos e reunificar o Vietnam pela força. Envolvimento americano. A intensificação da guerra fria levou os Estados Unidos, que tinham apoiado a França na Indochina, a acreditar que a queda do Vietnã do Sul acarretaria a de outros países do Sudeste Asiático -- a "teoria dos dominós". Aos poucos, firmou-se no país a influência americana, contestada por diferentes setores sociais que se unificaram na Frente de Libertação Nacional, fundada em 1960. Apoiada por camponeses, partidos políticos e intelectuais sul-vietnamitas e pelo governo do Vietnã do Norte, a Frente formou um exército de libertação visando à reunificação. Guerra aberta. A infiltração comunista através do paralelo 17 fortalecia os guerrilheiros e o Viet Cong. Crescia também a oposição em outros setores sociais, como o budista, e se repetiram suicídios de monges pelo fogo. O presidente americano John Kennedy aumentou o envio de material bélico, ajuda financeira e conselheiros militares para treinar as tropas sul-vietnamitas. A oposição interna ao governo chegou até as tropas sul-vietnamitas, e em novembro de 1963 Diem foi assassinado num golpe de estado. Em 1964, comandantes de dois destróieres declararam-se atacados por lanchas norte-vietnamitas em águas internacionais do golfo de Tonquim. Em represália, Lyndon Johnson, sucessor de Kennedy, ordenou o bombardeio de bases navais do Vietnã do Norte e começou a preparar a intervenção. Em março de 1965 o primeiro contingente de fuzileiros navais desembarcou no Vietnã do Sul e tiveram início os bombardeios sistemáticos acima do paralelo 17. Sob o comando do sul-vietnamita Nguyen Van Thieu, no poder desde 1965 e eleito presidente da república em 1967, e do general americano William Westmoreland, sucederam-se as ações militares nos anos seguintes: combates diretos com os guerrilheiros, bombardeio de Hanói e de outras cidades do norte e ataques aéreos a aldeias e áreas florestais, sobre as quais foram lançados desfolhantes e napalm, para queimar as árvores usadas como proteção pelos guerrilheiros. Tiveram importância fundamental nessas operações os helicópteros, o mais eficaz meio de transporte durante a guerra, e os bombardeiros B-52. Do ponto de vista militar, o conflito chegara a um impasse no começo de 1968. Os comunistas, liderados por Vo Nguyen Giap, não eram capazes de forçar a retirada americana; os Estados Unidos não conseguiam vencer a guerra, embora chefes militares anunciassem com freqüência a iminência da vitória. Em 30 de janeiro de 1968, os comunistas lançaram ataques coordenados contra as cidades importantes do Vietnã do Sul, na chamada ofensiva do Tet, que coincidiu com o primeiro dia do ano lunar: tomaram a cidade de Hue e ocuparam bairros periféricos de Saigon. Após um mês de combates, as forças do norte foram vencidas, mas o episódio teve forte impacto psicológico nos Estados Unidos. Ganharam as ruas protestos de estudantes, intelectuais e artistas, e aumentou o número de jovens que fugiam à convocação militar. Pressionado pelos movimentos populares e pelo Congresso, cada vez mais hostil à participação americana na guerra, o presidente Richard Nixon deu início ao processo de "vietnamização" do conflito, pelo qual os sul-vietnamitas assumiram gradualmente todas as responsabilidades militares por sua defesa, embora apoiados pelos Estados Unidos com armas, equipamentos, suporte aéreo e ajuda econômica. Começou a retirada lenta das tropas americanas da região. Westmoreland foi substituído pelo general Creighton Williams Abrams, que trocou os métodos de destruição maciça do antecessor por pequenas incursões seguidas de ataques aéreos. Em 1969, as forças americanas no Vietnã somavam 540.000 homens; no final de 1971, esse número caíra para 160.000. As tropas saíam desmoralizadas por ações que receberam condenação mundial, como a matança indiscriminada de civis na aldeia de My Lai, e por avanços do inimigo, apoiado por forças de países vizinhos. Em março de 1972, os norte-vietnamitas lançaram uma grande ofensiva em diversas frentes e ocuparam a província de Quang Tri. Os Estados Unidos responderam com o lançamento de minas em todas as baías e portos do Vietnã do Norte e intenso bombardeio do país. Conversações de paz. Em outubro de 1968 começaram em Paris as negociações formais para um armistício. Com patrocínio do governo francês, reuniram-se nos meses seguintes os representantes dos Estados Unidos, Vietnã do Sul, Vietnã do Norte e Frente de Libertação Nacional. Em pouco tempo ficou clara a impossibilidade de um acordo. Em janeiro de 1972 as conversações de Paris foram retomadas pelo secretário de Estado americano Henry Kissinger e pelo enviado norte-vietnamita Le Duc Tho. Diversas tentativas fracassaram, mas visitas do presidente Nixon a Pequim e Moscou no primeiro semestre de 1972 tiveram resultado positivo e um acordo foi assinado em 27 de janeiro de 1973. Terminava a participação americana na guerra. O fim do conflito, porém, só aconteceu em 30 de abril de 1975, quando as forças revolucionárias ocuparam Saigon sem combate.